A Voz do Povo

Jornal da Família Paulinense
Autismo e o SUS: Quando o Direito à Saúde Vira um Campo de Batalha

A cada novo diagnóstico de autismo no Brasil, cresce também a angústia de milhares de famílias diante de um sistema público de saúde que simplesmente não está preparado para acolher, cuidar e acompanhar essas pessoas ao longo da vida. O que deveria ser um direito — garantido por lei — transforma-se, na prática, em um caminho doloroso e desgastante.

Hoje, falar sobre autismo no SUS é, infelizmente, falar de espera. De filas intermináveis. De mães que batem de porta em porta em busca de um laudo, de um terapeuta, de uma vaga em um CAPSi. É falar de crianças que perdem tempo precioso porque não conseguem acesso a uma intervenção precoce. De jovens que crescem invisíveis. De adultos autistas sem atendimento, sem políticas de apoio, sem voz.

As promessas não bastam mais

Sim, temos leis. Sim, o Brasil reconhece, no papel, os direitos das pessoas com TEA. Mas de que adianta garantir direitos sem oferecer estrutura? As políticas públicas voltadas para o autismo, quando existem, são rasas, insuficientes e, na maioria das vezes, mal implementadas. O problema não é de hoje — e o descaso também não.

Há uma negligência histórica que se repete: o Estado se ausenta, os serviços falham, e as famílias precisam dar conta de tudo. Enquanto isso, governos se orgulham de campanhas publicitárias em abril, mas ignoram a realidade dura vivida pelos cuidadores o ano inteiro. A inclusão não pode ser sazonal. E o cuidado não pode depender da sorte ou do CEP.

Cuidar de quem cuida: uma urgência esquecida

O esgotamento das famílias é visível. Muitos cuidadores adoecem tentando fazer o que o Estado deveria fazer: garantir uma rede de atendimento contínua, digna e humanizada. Quantas mães precisam deixar o emprego para cuidar de seus filhos por falta de suporte público? Quantas enfrentam a depressão e a solidão, sem acesso a acompanhamento psicológico, sem descanso, sem perspectiva?

Precisamos falar mais alto

Chega de discursos bonitos e promessas para “o futuro”. O futuro dessas crianças, jovens e adultos está acontecendo agora — e ele está sendo negligenciado. É urgente reestruturar o atendimento público para pessoas com autismo. É urgente formar mais profissionais. É urgente criar políticas que considerem as necessidades ao longo de toda a vida. É urgente respeitar a dignidade dessas famílias.

Não se trata de pedir favores ao Estado. Trata-se de cobrar o cumprimento de um direito fundamental: o direito à saúde. E, mais do que isso, o direito de viver com dignidade, com apoio, com esperança.

Porque ninguém deveria lutar tanto para ser cuidado.

Gi Ferro – Viver Autismo
Combatendo o Preconceito com Informação!

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  • Nós somos a Viver Autismo, um movimento dedicado à luta contra o preconceito e à promoção da conscientização sobre o autismo. Desde 2013, temos trabalhado incansavelmente para levar conhecimento e compreensão a todos.

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