A Voz do Povo

Jornal da Família Paulinense
Crise Invisível: Adultos Autistas Enfrentam Alta Taxa de Internações Psiquiátricas e Falta de Suporte no Sistema de Saúde.

Um novo estudo publicado por pesquisadores norte-americanos acende um alerta sobre uma realidade pouco discutida: o aumento expressivo das internações psiquiátricas entre adultos com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Segundo os dados, mais de um terço dessas hospitalizações estão ligadas a crises de saúde mental, e uma parcela significativa dos pacientes retorna aos hospitais em menos de 30 dias após a alta — um indício claro de falhas no acompanhamento e na rede de apoio.

O levantamento analisou milhares de registros hospitalares e revelou um padrão preocupante: pessoas autistas adultas são mais propensas a sofrer internações prolongadas e a enfrentar dificuldades na retomada da rotina após o tratamento. As causas mais comuns incluem ansiedade severa, depressão, crises sensoriais e episódios de colapso emocional. Para os especialistas, esses números refletem não apenas o impacto psicológico acumulado pela falta de suporte ao longo da vida, mas também a ausência de políticas públicas voltadas a essa população.

A transição da infância para a vida adulta é um dos pontos mais críticos. Enquanto crianças autistas costumam ter acesso a terapias multidisciplinares e programas de acompanhamento, muitos adultos ficam sem atendimento especializado. “O sistema de saúde foi estruturado pensando em crianças, e simplesmente esquece os adultos autistas”, observa o psicólogo clínico e pesquisador João Ferreira.

Outro fator é o despreparo dos serviços de urgência e internação, que muitas vezes desconhecem como lidar com a neurodivergência. Falta de protocolos, ambientes sensorialmente agressivos e profissionais sem treinamento adequado podem agravar ainda mais o quadro de quem já chega em crise.

Organizações de defesa dos direitos das pessoas autistas têm cobrado mudanças estruturais, incluindo capacitação de equipes médicas, ampliação do acesso a terapias e acompanhamento contínuo após a alta hospitalar. Sem isso, alertam os especialistas, o ciclo de internações tende a se repetir.

Mais do que números, o estudo revela uma urgência ética e social: compreender o autismo na vida adulta como parte de um espectro que exige cuidado constante e adaptado. O aumento das internações psiquiátricas é apenas o sintoma mais visível de um problema maior — o de uma sociedade que ainda não aprendeu a acolher plenamente a neurodiversidade.

Gi Ferro – Viver Autismo
Combatendo o Preconceito com Informação!

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  • Nós somos a Viver Autismo, um movimento dedicado à luta contra o preconceito e à promoção da conscientização sobre o autismo. Desde 2013, temos trabalhado incansavelmente para levar conhecimento e compreensão a todos.

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