Da Muralha à Mídia: Como a Cultura Pop Chinesa Conquista Espaço no Ocidente

Durante décadas, o fluxo da cultura pop global foi dominado pelo Ocidente, especialmente pelos Estados Unidos. Mas, nos últimos anos, uma nova onda vem chamando a atenção do público internacional: a ascensão da cultura pop chinesa, que começa a conquistar espaço fora de suas fronteiras — das telas de cinema às redes sociais, dos games aos palcos da música.
O fenômeno vai além dos tradicionais filmes de artes marciais. Hoje, produções chinesas contemporâneas, como os épicos históricos em formato de séries, os chamados donghuas (animações chinesas) e os dramas conhecidos como C-dramas, estão ganhando legiões de fãs em plataformas de streaming como Netflix, Viki e YouTube. Séries como The Untamed e Eternal Love se tornaram cultuadas em países da América Latina, Europa e até nos Estados Unidos.
Além da dramaturgia, a música pop chinesa — chamada de C-pop — também vem se internacionalizando, impulsionada por grupos idol similares aos do K-pop. Artistas como Jackson Wang, Lay Zhang e a girlband BonBon Girls já figuram entre os nomes mais comentados nas redes sociais, especialmente entre o público jovem.
Outro segmento em ascensão é o dos games e e-sports. Empresas chinesas como Tencent e NetEase estão entre as maiores do mundo, por trás de títulos populares como Honor of Kings, Genshin Impact e PUBG Mobile. Esses jogos acumulam milhões de usuários fora da China e transformam jogadores em verdadeiros influenciadores digitais globais.
“O Ocidente começa a olhar para a China não apenas como um polo econômico, mas também como uma potência criativa. É uma virada de percepção”, afirma Mariana Liu, pesquisadora de mídia e cultura asiática.
A expansão da cultura pop chinesa também é estratégica. O governo chinês tem investido fortemente em sua chamada “diplomacia cultural”, com o objetivo de projetar uma imagem moderna e positiva do país para o mundo. A criação de festivais internacionais, parcerias com plataformas de streaming e exportação de conteúdo são parte desse plano de soft power.
Mas há desafios. A censura interna imposta pelo Estado ainda limita temas sensíveis, o que pode restringir a universalização de certas narrativas. Além disso, o público ocidental muitas vezes encara a cultura chinesa com estereótipos ou desconhecimento, o que exige trabalho contínuo de mediação cultural.
Apesar disso, a ponte entre a Muralha e o mundo está cada vez mais movimentada. A cultura pop chinesa surge como uma nova força global, capaz de entreter, emocionar e também transformar a forma como o Oriente é visto — com mais nuances, mais vozes e uma estética que mescla tradição e vanguarda.