Entre o Antigo e o Futuro: O Crescimento das Cidades Inteligentes na China

Enquanto preserva templos milenares, muralhas históricas e tradições culturais profundas, a China também avança em direção ao futuro com um dos projetos mais ambiciosos de urbanização tecnológica do mundo: as cidades inteligentes. Grandes centros urbanos chineses como Shenzhen, Hangzhou e a futurista Xiong’an estão se transformando em verdadeiros laboratórios vivos, onde a inovação digital se integra ao cotidiano dos cidadãos.
O conceito de “cidade inteligente” vai além do uso de tecnologia. Ele envolve a aplicação de inteligência artificial, big data, Internet das Coisas (IoT), transporte autônomo e energia limpa para melhorar a qualidade de vida urbana, otimizar os serviços públicos e tornar a gestão das cidades mais eficiente.
Shenzhen, por exemplo, é hoje considerada uma das cidades mais tecnológicas do planeta. Com mais de 17 milhões de habitantes, é lar de empresas como Huawei, Tencent e DJI. Lá, o transporte público é quase 100% elétrico e os sistemas de reconhecimento facial são usados para pagamentos, segurança e até controle de tráfego em tempo real.
Já Hangzhou, sede da gigante Alibaba, é referência mundial na aplicação de inteligência artificial no gerenciamento urbano. O sistema City Brain, desenvolvido pela empresa, coleta e analisa dados de câmeras e sensores espalhados pela cidade para controlar o fluxo de veículos, priorizar ambulâncias e reduzir congestionamentos — com resultados impressionantes.
Mas o exemplo mais ousado é a construção da nova cidade de Xiong’an, iniciada em 2017 a cerca de 100 km de Pequim. Projetada para ser “verde, inteligente e inovadora”, Xiong’an tem o objetivo de aliviar a superlotação da capital chinesa e servir como modelo para o futuro da urbanização sustentável. A cidade nasce com estrutura 100% digitalizada, malha subterrânea para infraestrutura e foco em mobilidade limpa.
Para especialistas, o avanço chinês nas cidades inteligentes está diretamente ligado ao planejamento estatal de longo prazo e ao investimento pesado em tecnologia. No entanto, também levanta debates sobre privacidade, controle de dados e vigilância — temas que ganham relevância em um mundo cada vez mais digital.
“É fascinante ver como a China integra o novo sem abandonar o antigo. Muitas dessas cidades mantêm parques históricos, tradições locais e até vilas preservadas, lado a lado com sensores de última geração”, comenta a arquiteta e urbanista Juliana Kawai, que estuda modelos asiáticos de urbanismo.
A experiência chinesa mostra que o futuro das cidades pode — e talvez deva — respeitar o passado, enquanto constrói soluções para os desafios do presente. Em meio a lanternas vermelhas e painéis solares, a China continua moldando o século XXI com um pé na história e outro no amanhã.