O Novo Motor da Economia Chinesa Consumo Interno Ganha Força em Meio a Desafios Industriais.

Depois de décadas impulsionada por exportações e infraestrutura pesada, a economia chinesa parece estar passando por uma transformação silenciosa — e estratégica: o consumo interno emerge como novo motor do crescimento, enquanto a produção industrial dá sinais de desaceleração.
Dados divulgados em junho mostram que, em maio de 2025, as vendas no varejo na China cresceram 6,4% em comparação ao mesmo mês do ano anterior, superando as expectativas do mercado. Esse avanço foi impulsionado, principalmente, por incentivos do governo, como subsídios à compra de veículos elétricos, promoções do “Festival 618” (uma das maiores datas do comércio digital chinês) e maior investimento em campanhas de estímulo ao consumo doméstico.
Em contrapartida, a produção industrial desacelerou, crescendo 5,8% em maio — número ainda robusto, mas inferior aos meses anteriores. Especialistas atribuem a queda à retração das exportações e aos efeitos das tensões comerciais persistentes com os Estados Unidos e a União Europeia.
Para analistas internacionais, o desempenho misto revela uma transição planejada pelo governo de Pequim: menos dependência das exportações e mais foco na autossuficiência, inovação e fortalecimento do mercado interno. A chamada estratégia da “dupla circulação” — promovida desde 2020 — visa equilibrar o comércio exterior com o consumo doméstico, criando uma economia mais resiliente a pressões externas.
“O crescimento do varejo indica que a classe média chinesa continua expandindo sua participação na economia. O país está tentando se tornar menos vulnerável às flutuações globais, reforçando a demanda interna como pilar de longo prazo”, explica Jia Ming, economista da Universidade de Fudan.
O setor de tecnologia e serviços foi um dos principais beneficiados. Aplicativos de e-commerce como JD.com e Pinduoduo registraram recordes de vendas, enquanto empresas de entretenimento digital e delivery também apresentaram forte desempenho no mês.
Apesar do otimismo com o consumo, o governo chinês segue cauteloso. A inflação está sob controle, mas o mercado imobiliário ainda enfrenta fragilidades, e as dívidas locais de governos regionais continuam sendo uma preocupação para Pequim.
“O desafio da China agora é manter a confiança do consumidor e garantir crescimento estável sem recorrer ao modelo antigo de estímulo pesado e expansão de crédito”, avalia Liu Wei, analista de mercados do setor financeiro.
Em meio a tensões internacionais, metas ambientais e reestruturação de cadeias produtivas, a China busca um novo equilíbrio econômico, em que o cidadão-consumidor ganha protagonismo. O movimento não é apenas uma resposta conjuntural — mas uma mudança de paradigma.