Privacidade em Risco? Base de Dados de Autistas Gera Polêmica nos EUA

Uma iniciativa recente nos Estados Unidos tem acendido um intenso debate entre autoridades, defensores de direitos civis e famílias de pessoas autistas: a criação de bancos de dados estaduais com informações sobre indivíduos diagnosticados com Transtorno do Espectro Autista (TEA). O objetivo declarado é simples: facilitar o atendimento em situações de emergência por parte da polícia e equipes de saúde. No entanto, críticos apontam sérios riscos à privacidade e à segurança dessa população.
Nos estados onde a proposta está em andamento, como Nova York, Ohio e Flórida, a ideia é que pais ou responsáveis registrem, de forma voluntária, informações como nome, diagnóstico e endereço da pessoa autista em sistemas acessíveis por autoridades públicas. A intenção seria permitir abordagens mais preparadas e sensíveis em casos de crise, desaparecimentos ou confrontos com a polícia.
A promessa de proteção… e o medo da exposição
Para os defensores da proposta, trata-se de uma ferramenta de proteção. Casos de autistas não verbais que desapareceram ou foram mal interpretados por forças policiais poderiam ter desfechos menos trágicos se os agentes tivessem acesso antecipado às informações.
Contudo, para entidades como a Autistic Self Advocacy Network (ASAN) e a ACLU (União Americana pelas Liberdades Civis), o plano pode representar uma grave violação de direitos. O temor é que esses dados sejam mal utilizados, levem a discriminação institucional, ou mesmo sejam vazados — colocando em risco não só a privacidade, mas também a segurança das pessoas autistas.
Ecos no Brasil e em outros países
A repercussão internacional não tardou. No Brasil, onde ainda não há propostas semelhantes em debate oficial, ativistas já se posicionam com cautela. A preocupação é de que uma ideia com intenções positivas possa se transformar em mais uma forma de controle e rotulação, especialmente em contextos sociais marcados por desigualdade e discriminação.
Conclusão
A criação de bancos de dados sobre autistas nos EUA abre uma discussão urgente e necessária: até que ponto é válido registrar informações pessoais sensíveis em nome da segurança? A proteção nunca deve vir à custa da dignidade. Em tempos de vigilância digital e fragilidade nas leis de proteção de dados, iniciativas como essa exigem amplo debate público, transparência e, acima de tudo, escuta ativa da própria comunidade autista.