Visão Computacional e IA: Rumo a Diagnósticos Mais Precoces do Autismo.
Pesquisas recentes em inteligência artificial e visão computacional têm apontado para uma revolução silenciosa no diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Técnicas que antes dependiam majoritariamente de avaliações clínicas e observações comportamentais já podem ser complementadas por algoritmos capazes de “ver” padrões visuais e neurológicos com precisão — acelerando a identificação e possibilitando intervenções mais rápidas e assertivas.
O que as novas tecnologias revelam
Entre os avanços mais promissores estão os modelos baseados em Vision Transformers (ViT), combinados à análise de imagens médicas como ressonâncias magnéticas estruturais (MRI) e dados de rastreamento ocular (eye-tracking). Um estudo recente usou ressonâncias cerebrais (T1-weighted MRI) e modelos ViT para classificar casos de TEA, alcançando alta acurácia e sensibilidade, o que reforça a viabilidade clínica desses sistemas.
Outra pesquisa com rastreamento de olhar (“eye-gaze”) combinada à transferência de aprendizado mostra que é possível transformar padrões visuais de fixação e movimento dos olhos em sinais diagnósticos, usando redes treinadas em imagens gerais e adaptadas para autismo.
Ainda no front da inovação, há estudos que utilizam ambientes de realidade virtual (VR) para criar tarefas interativas com uso de IA, analisando como crianças respondem a estímulos visuais ou motores. Um desses sistemas alcançou mais de 85 % de acurácia na detecção de traços autistas em uso experimental de realidade virtual.
Benefícios e desafios no Brasil
Esses modelos tecnológicos oferecem duas vantagens claras: rapidez (ao processar grandes volumes de dados automaticamente) e padronização (menos subjetividade nas interpretações humanas). Isso pode significar diagnósticos mais precoces em localidades com poucos especialistas — uma enorme vantagem em regiões remotas ou com carência de neurologistas e psicólogos especializados.
Mas há desafios importantes:
- A validação clínica ainda precisa de mais estudos e replicações com populações diversas.
- Aspectos éticos e de privacidade envolvem imagens biomédicas sensíveis, decisões automatizadas e possíveis vieses embutidos nos algoritmos.
- A tecnologia não substitui o laudo médico — exige supervisão humana e integração com abordagem multidisciplinar.
O que isso representa para o futuro
A combinação de visão computacional, IA e dados biométricos pode mudar a forma como encaramos o diagnóstico de TEA. Em vez de esperar meses por laudos complexos, o uso de algoritmos assistivos pode resultar em rastreamentos mais rápidos, permitindo intervenções terapêuticas mais precoces.
Para o Brasil, onde o acesso às tecnologias médicas modernas pode ser desigual, esses modelos representam uma ponte entre inovação e inclusão. Se adotados de forma ética, responsável e com respaldo científico, podem reduzir desigualdades no diagnóstico — e potencialmente transformar vidas.
Gi Ferro – Viver Autismo
Combatendo o Preconceito com Informação!